A descoberta do Cometa C/2002 Y1 pelo brasileiro Paulo Holvorcem (em conjunto com o americano Charles Juels) entrou para a história da astronomia brasileira pois envolveu o primeiro brasileiro a emprestar seu nome a um cometa - a decisão de dar nome ao Cometa C/2002 Y1 como sendo Juels-Holvorcem coube à União Astronômica Internacional, por intermédio das entidades a ela subordinadas: Central Bureau for Astronomical Telegrams e Minor Planet Center.
É claro que isso não tira o mérito de outros observadores que descobriram cometas no Brasil. Na verdade até o C/2002 Y1 foi descoberto através das imagens de uma luneta de 12cm localizada no Observatório de C. Juels em Fountain Hills (perto de Phoenix, Arizona, EUA). Porém a análise das imagens feita por Paulo Holvorcem revelou a existência de um objeto móvel com magnitude 16. Como não foram usadas imagens de satélites, a UAI reconhece a descoberta e nomeia o Cometa usando os sobrenomes dos descobridores.
Tal procedimento não ocorre com as imagens fornecidas pela sonda SOHO onde temos uma infinidade de fotos tomadas por diferentes câmeras instaladas no artefato - os cometas descobertos por meio dessas imagens já ultrapassaram a marca de 2000, porém todos esses cometas são nomeados "SOHO".
Mas voltamos as descobertas feitas por brasileiros. Temos registrado na história alguns marcos importantes na observação de cometas no Brasil.
Algumas civilizações pré-colombianas que habitaram o Brasil deixaram registros rupestres. Uma delas, encontrada na Caverna de Xiquexique (Central, Bahia) mostra a figura do que parece ser um enorme cometa e provavelmente possui 3300 anos. No entanto o nosso objetivo é mostrar quais os cometas que foram oficialmente descobertos por brasileiros. Os registros históricos apontam para observações realizadas na época da chegada dos portugueses ao Brasil.
Em 12 de maio de 1500, logo após a vinda de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, o médico e astrônomo da esquadra, João Faras, descobriu o Cometa Cabral (homenageando o comandante da expedição). No entanto, nem Cabral nem João Faras eram brasileiros.
Em 16 de dezembro de 1652 foi descoberto um cometa de magnitude 2 a 3, em Recife. O Cometa foi registrado em uma gravura holandesa desenhada por "N.N." e reproduzida na obra Biblioteca Brasiliana (1983, Rubens Borba de Morais). O mesmo cometa foi observado por Hevelius em 20 de dezembro de 1652 e é oficialmente conhecido por Cometa Hevelius. Não há evidências de que este cometa tenha sido descoberto por um brasileiro nato, talvez o descobridor tenha sido holandês.
Em 15 de agosto de 1686 um cometa foi descoberto pelo padre jesuíta Richaud quando ele estava no Brasil. O mesmo padre observaria outro cometa em dezembro de 1689 quando estaria em Pondicherry, Índia. No entanto o cometa de 1689 pode ter sido observado pela primeira vez em 1º de dezembro de 1689 pelo jesuíta alemão Valentim Estancel no Brasil.
Uma hora antes do Sol nascer em 28 de outubro de 1695 na Bahia, o jesuíta francês Jacob Cocleo descobriu o cometa que leva seu nome - Jacob.
Já o francês Emmanuel Lias descobriu um cometa em 26 de fevereiro de 1860 em Olinda. Somente ele registrou as observações deste cometa e enviou para a Academia de Ciências de Paris.
Em 10 de setembro de 1882 foi a vez de Luiz Cruls, astrônomo belga mas naturalizado brasileiro, ter descoberto o brilhante Cometa Cruls, usando os instrumentos do Observatório Imperial do Rio de Janeiro. Há referências deste cometa ter sido observado 10 dias antes, mas coube a Cruls ter feito a astrometria e comunicar a comunidade astronômica.
5 dias... foi o intervalo de tempo entre a descoberta oficial do Cometa White-Ortiz-Bolleli (1970 I = C/1970 K1) e a observação do brasileiro Vicente Ferreira de Assis Neto. Numa época em que não havia Internet, Vicente comunicou sua descoberta independente, porém outros já haviam relatado o cometa em 18 de maio de 1970. "Tenho certeza de que vou descobrir mais um nos próximos anos", confidenciou Vicente na revista Superinteressante, setembro de 1989.
Em 1º de fevereiro de 2002 foi a vez de Paulo M. Raymundo (Salvador, Bahia) descobrir independentemente o histórico Cometa Ikeya-Zhang. No anoitecer de 1º de fevereiro, Paulo descobriu um objeto nebuloso com magnitude 7.5 e comunicou sua descoberta ao CBAT e a Charles Morris. O CBAT já havia recebido os relatos de Ikeya e Zhang, porém a posição medida por Raymundo não coincidia com a órbita provisória do Ikeya-Zhang. Talvez um segundo cometa tivesse sido descoberto pelo brasileiro. No entanto, ao refinar os elementos orbitais, notou-se que se tratavam do mesmo cometa, e como ele já havia sido oficialmente nomeado, ficou o nome Ikeya-Zhang. A órbita deste cometa sugere que ele também foi observado por Hevelius em 1661.
Mas na noite de 28 de dezembro de 2002 foi o outro Paulo, Holvorcem, quem descobriu o cometa C/2002 Y1, usando imagens coletadas pela luneta no "quintal" do americano C. Juels. Holvorcem viria a participar de outras descobertas tais como C/2005 N1 (Juels-Holvorcem), C/2011 K1 (Schwartz-Holvorcem), P/2012 TK8 (Tenagra), C/2013 C2 (Tenagra), C/2013 D1 (Holvorcem), P/2013 EW90 (Tenagra), C/2013 G9 (Tenagra) e C/2013 U2 (Holvorcem). Além desses, Holvorcem também participou da descoberta do Cometa P/2013 T2 (Schwartz) e da redescoberta do Cometa 274P/2012 WX32 (Tombaugh-Tenagra).
Na noite de 11-12 de janeiro de 2014 Cristóvão Jacques e seus colegas usam o telescópio de 0,46 metros do Observatório SONEAR e descobrem o Cometa C/2014 A4 (SONEAR). Embora não seja o primeiro cometa descoberto por brasileiros, o C/2014 A4 tem a primazia de ser oficialmente descoberto por brasileiros natos usando um equipamento instalado em território nacional .
Se o leitor possuir mais algum material sobre a descoberta de cometas por brasileiros, poderá enviar tais informações para costeira1@yahoo.com
Alexandre Amorim
Secção de Cometas/REA
Núcleo de Estudo e Observação Astronômica "José
Brazilício de Souza"
Bibliografia
-MOURÃO,R.R.F., Introdução
aos Cometas, 2000, Ed. Itatiaia
-MOURÃO,R.R.F., Dicionário
Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica,1996,Ed.Nova Fronteira.
-MOURÃO,R.R.F., "Sóis,
estrelas e cometas em cavernas no Nordeste". Superinteressante, ano 2, nº
5, maio/1988
-Revista Superinteressante, ano
3, nº9, setembro/1989
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