Ocultações de estrelas por transnetunianos
Notas úteis e dicas de observação (por Felipe Braga Ribas/ON)
- A grande
distância,
o fraco brilho e a descoberta relativamente recente destes objetos faz
com que
suas órbitas sejam mal conhecidas. Por conta disso,
há
possivelmente um erro
de previsão da posição da sombra sobre
a Terra.
Por isto é importante haver
o maior número possível de observadores
espalhados por
uma grande área,
aumentando assim a chance de sucesso em alguma localidade. Os eventos
envolvendo
Plutão, Caronte, Nix e Hydra (satélites de
Plutão)
têm previsões mais
precisas, com erro na ordem de 1000km.
- As coordenadas das
estrelas a serem ocultadas estão impressas nos mapas, logo
abaixo de ra___dec___J200_candidate.
- Mapas do céu no
entorno da estrela podem ser conseguidos em
http://archive.stsci.edu/cgi-bin/dss_form
, colocando as coordenadas da estrela.
- Comece a observar 30
minutos antes do evento e pare só 30 minutos depois, uma vez
que
incertezas na posição podem levar a grandes
diferenças de instante central.
- Realize testes (se possível na noite anterior) de apontamento, guiagem, aquisição de imagem. Nos eventos que ocorrem no princípio da noite, o tempo pode ser curto para testar tudo no dia do evento.
- NÃO DEIXE DE NOS ENVIAR UM RELATÓRIO de observação em qualquer caso, seja tempo fechado, problemas técnicos ou ocultação negativa ou positiva.
- Certifique-se de utilizar uma fonte de sinal horário segura para a determinação dos horários de ocorrência da ocultação. Sugerimos programas como o Beeper Sync, ou o do Observatório Nacional, ou ainda o telefone (21) 2580-6037, do ON.
- (Para
observações
não-visuais) O tempo de exposição deve
ser curto,
tipicamente integrações não maiores
que 5
segundos. Mas varia conforme
a duração do evento e a precisão
fotométrica necessária.
- (Para
observações não-visuais) Evite tempo
morto entre
as imagens. Por exemplo, não há muita vantagem em
ter uma
exposição de 1s se o tempo de para se ler/salvar
o
arquivo for 6s, pois a maior parte dos fótons
serão
perdidos. Neste caso é melhor ter um tempo de
exposição de 6s, para que pelo menos 50% dos
fótons sejam coletados. Se possível utiliza
somente um
pequena área do CCD onde estejam a estrela de
ocultação e de calibração.
Isto reduz o
tempo de descarga da imagem.
- (Para
observações não-visuais) Cuidado que
alguns
detectores (câmeras de video, webcams,...) tentam compensar
automaticamente as variações de brilho. Procure
desativar
tal função, e ajuste o GAMMA = 1 ( ou "NO
GAMMA").
- (Para
observações
não-visuais) Certifique-se que o tempo registrado em cada
imagem
corresponde à um tempo absoluto
(http://pcdsh01.on.br).
Para isto
sugerimos o uso de gps, quando possível, ou programas para a
sincronização do relógio do computador
(http://pcdsh01.on.br/SincronismoPublico.html
ou AboutTime por exemplo). Isto é muito importante para a
reconstrução da geometria do evento a partir de
várias estações.
- (Para
observações não-visuais) Tome
bias
(exposições rápidas com o obturador
fechado) e flats
(imagens de uma placa branca homogeneamente
iluminada).
- Qualquer dúvida
escreva para ribas
arroba
on.br e/ou bgiacchini
arroba
yahoo.com.br
Apresentação
Os transnetunianos - ou TNO's -, como o próprio nome desta classe de objetos já sugere, são corpos que orbitam além da órbita de Netuno. O primeiro a ser descoberto foi Plutão, em 1930. Nas últimas décadas, foram descobertos outros astros, que orbitam aquela mesma região. Pouco se sabe sobre os parâmetros físicos destes objetos, e não é raro a incerteza em seus diâmetros chegar à algumas centenas de quilômetros. Acredita-se que o estudo desses corpos venha lançar luz sobre o entendimento dos processos de formação e evolução do Sistema Solar - o que acarreta em progressos na compreensão da formação de sistemas planetários de modo geral.
Dentre os fatores que nos motivaram a criar uma seção em nosso site exclusiva para para esse raro tipo de ocultação está a recente experiência com a ocultação de uma estrela pelo TNO (20000) Varuna. A, carinhosamente por nós apelidada, "ocultação de Varuna" ocorreu no dia 19 de fevereiro deste ano, 2010, e envolveu este grande transnetuniano e uma estrela de magnitude 11, localizada na constelação de Gêmeos. Para este importante fenômeno foi feita uma preparação iniciada em novembro de 2009, quando fomos procurados pelo grupo de ocultações do MIT (EUA). Posteriormente estivemos em contato com o Felipe Braga Ribas, do grupo de ocultações do Observatório Nacional - que trabalha em parceiria com o Observatório de Paris. E, em seguida, contactamos observadores em todo o Brasil, convidando-os para participar dessa campanha observacional. O resultado da campanha foi considerado por nós um sucesso: obtivemos duas observações positivas, uma em São Luís, Maranhão, e a outra em Camalaú, Paraíba; além de uma negativa, em Maceió. Contamos também com a participação de outras estações, que tiveram problemas técnicos ou céu encoberto. Esta foi, possivelmente a segunda ocultação já observada de um transnetuniano, à parte as de Plutão e seu maior satélite Caronte. Para mais informações sobre a "ocultação Varuna", visite a página específica.. Durante toda a Campanha notamos o interesse de vários obsevadores (ou associações astronômicas - amadoras e profissionais) na observação e no registro de fenômenos astronômicos como esse.
Ainda no âmbito da "ocultação Varuna", outra motivação para a criação desta página dedicada aos TNO's foi o fato de uma das observações positivas ter sido feita visualmente - sem o auxílio de câmeras ou dispositivos como receptores GPS - e com um telescópio de 20cm de abertura. Isso foi uma comprovação da concepção que temos de que a observação visual ainda pode ter importância científica (e a terá por algum tempo). Mais ainda, isso foi uma mostra de que nossos observadores têm grande potencial para reunir esforços em torno de uma observação específica; e que é importante que eles tenham conhecimento das técnicas de observação - desde as mais simples, pois elas podem sim gerar importantes resultados para a Ciência Astronômica.
Devemos, ainda, mencionar entre as motivações para a criação desta página, o valor científico das observações desses fenômenos. Quando se observa uma ocultação desse tipo, a duração do fenômeno fornece uma medida de grande precisão do tamanho do TNO. Esse é o modo mais preciso de se determinar, de observações a partir da Terra, as dimensões do objeto. Um conjunto de registros de uma mesma ocultação permite que se estude da forma do objeto, como por exemplo, se ele é achatado ou esférico. A comparação dos dados obtidos a partir de uma ocultação, com estudo fotométrico do corpo, permite a estimativa do albedo (quanto de luz o corpo reflete), composição, dentre outros parâmetros físicos e orbitais. Ainda, caso a queda de luz ocorra gradualmente, isso pode indicar a existência de atmosfera no envolvendo o transnetuniano. É também possível que se descubram satélites do objeto, caso ocultações secundárias na proximidade do instante previsto para a ocultação "principal", sejam observadas.
Cremos assim ter explicado a importância do registro desses fenômenos, ainda pouco observados, e mostrado que os observadores amadores podem contribuir em algumas campanhas desse tipo.
Gostaríamos de agradecer ao amigo Felipe Braga Ribas, do grupo de ocultações do Observatório Nacional. Ele foi um dos idealizadores desta página e sem sua ajuda não teríamos praticamente nenhum material para publicar.
Desejamos a todos boas observações!
Breno Loureiro Giacchini, coordenador da Seção de Ocultações de REA.
Breno Loureiro Giacchini - bgiacchini arroba yahoo.com.br
Felipe Braga Ribas - ribas arroba on.com.br