A Seção de Ocultações no ENAST 2011 - São Paulo
Breno Loureiro Giacchini
O 14º Encontro Nacional de Astronomia - 14º ENAST - ocorrerá em São Paulo nos dias 12, 13 e 14 de novembro próximo.
A Seção de Ocultações da REA irá participar do Evento com a palestra "Ocultações Astronômicas: como observar" e também apresentará um painel sobre a ocultação rasante de Phi Sagittarii de 15/11/1985.
Segundo a programação divulgada pela organização do ENAST, a palestra ocorrerá no Sábado 12/11/11, de 14:30 às 15:30 na Sala 2 (Pesquisa Amadora e Observação). Estão todos convidados ! Os resumos dos trabalhos seguem abaixo.
Para mais informações sobre o ENAST: www.14.enast.com.br
Ocultações Astronômicas: como observar
Breno Loureiro Giacchini
É comumente aceito que um dos pilares no qual se sustenta a astronomia amadora é a observação do céu. E dentre os vários tipos de trabalhos observacionais ao alcance dos amadores, o registro de ocultações ocupa lugar de destaque. Isso ocorre, principalmente, por três motivos: o instrumental simples (até mesmo com um binóculo ou pequeno telescópio já é possível se obter bons resultados), a grande freqüência de ocorrência desses fenômenos e a simplicidade do método de observação. Outros fatores que valeriam por si só o estímulo à observação desses fenômenos são a sua importância científica e a integração que esse estudo promove entre astrônomos amadores e profissionais.
O objetivo deste trabalho é apresentar, de maneira geral, a metodologia utilizada para se registrar, de forma visual, ocultações astronômicas. A apresentação irá se concentrar nos métodos do cronômetro e do gravador aplicados a uma ocultação total de uma estrela pela Lua. A partir daí, o ouvinte poderá aplicá-los, fazendo pequenas modificações, à observação de outros tipos de ocultações.
Chamamos de ocultação ao fenômeno de desaparecimento temporário de um astro devido à passagem de outro, com maior diâmetro aparente, à sua frente. São exemplos de ocultações as provocadas pela Lua, quando passa diante de estrelas, planetas ou asteróides; ou quando planetas, asteróides ou objetos transnetunianos passam diante de estrelas. Ocultações de estrelas pela Lua são capazes de fornecer importantes dados acerca da estrela a ser ocultada (posição, diâmetro angular, descoberta e estudo de sistemas duplos), bem como da Lua (determinação da posição lunar, estudo do seu relevo, medição de variações no movimento orbital da Lua e da rotação da Terra). O estudo do relevo lunar, principalmente nas regiões dos pólos lunares, pode ser aplicado na previsão das pérolas de Baily durante eclipses solares para se obter uma medida precisa do diâmetro do Sol e estudar suas variações. Já as ocultações de estrelas por asteróides, além de nos fornecer a posição precisa do asteróide, são importantes formas de se descobrir a duplicidade tanto da estrela quanto do asteróide. Por meio de seu devido registro é possível, também, se determinar a forma e o tamanho do asteróide. Ocultações de estrelas por objetos transnetunianos permitem se medir o tamanho e a forma do objeto, além de se estudar eventuais atmosfera e satélites.
Observar uma ocultação vai além da simples observação do fenômeno. Deve-se, também, determinar o horário de ocorrência do fenômeno com a melhor precisão possível (no caso de ocultações lunares, precisão de, no mínimo, décimos de segundo). Em muitos casos, para lograr tal intento, bastam um telescópio, um cronômetro e uma fonte precisa de sinal horário. Apresentaremos as principais fontes de sinal horário no Brasil (o serviço por telefone e a rádio, ambos do Observatório Nacional), além de técnicas para se determinar o tempo de reação do observador. Por fim, trataremos da Seção de Ocultações da REA (Rede de Astronomia Observacional), que trabalha junto à IOTA (International Occultation Timing Association, responsável mundialmente pela coleta, análise e arquivamento das observações de ocultações), seus objetivos e como ela pode ajudar o observador interessado.
A ocultação rasante de Phi Sagittarii de 15/11/1985 à luz dos mapas topográficos da sonda Kaguya
Breno Loureiro Giacchini
Uma ocultação é dita rasante quando ocorre nas proximidades dos pólos da Lua. Como a Lua passa tangenciando a estrela, esta desaparece e reaparece algumas vezes devido ao relevo (montanhas e vales) daquela região do nosso satélite. Cada um desses desaparecimentos ou reaparecimentos é chamado de evento. Neste trabalho estudamos a ocultação rasante de j Sagittarii observada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em quinze de novembro de 1985 e que teve vinte e quatro eventos registrados. A campanha de observação desta ocultação foi organizada por Luiz Augusto Leitão da Silva, à época coordenador da Comissão de Ocultações da União Brasileira de Astronomia – UBA. Um artigo com a redução destas observações foi publicado por Silva em 1985 e 1986 no boletim da UBA. Naquele artigo consta uma redução gráfica das observações em comparação com o perfil de limbo previsto pelas Cartas de Watts. No presente estudo refazemos a redução das observações, agora em comparação com o perfil previsto com base nos dados obtidos recentemente pela sonda japonesa Kaguya, que elaborou um preciso mapa topográfico de nosso satélite. A nova análise permite se explicar melhor a causa de alguns eventos registrados, associando-os à acidentes no relevo lunar; permite também se refinar o conhecimento do limbo naquela região, indicando picos aparentes um pouco mais elevados, ou depressões um pouco mais profundas. Grande parte dessas análises não era possível de ser feita tendo como base apenas as Cartas de Watts.